LeSalle Munroe trabalha no lugar mais silencioso de todo o mundo.

Para você ter uma ideia, se ele para por alguns momentos na sua sala, é capaz de escutar o próprio sangue fluir no corpo e seus olhos se movendo no globo ocular.

Esqueça sons de computador, ar condicionado, telefones tocando, dedos digitando, barulho de passos, etc. Munroe trabalha numa câmara especial, escondida dentro do Edifício 87, na sede da Microsoft em Redmond, Washington. É lá onde os computadores Surface e o videogame Xbox são produzidos. Sim, você entendeu bem: Munroe trabalha em um laboratório à parte.

Trata-se de uma câmara anecoica, uma sala construída por engenheiros para ajudar no teste de novos produtos e, em 2015, bateu o recorde mundial do silêncio, quando os ruídos de fundo do local registraram inacreditáveis -20.6 decibéis.

Para você ter ideia, uma pessoa sussurrando emite 30 decibéis, enquanto o som respiração mede 10. No caso da câmara, o maior barulho é aquele produzido por moléculas de ar colidindo entre si, em temperatura ambiente. Esse som mede cerca de -24 decibéis.

Segundo Munroe, a experiência em sua sala, quando as portas estão devidamente fechadas, é algo único.

“Quando você para de respirar, ouve seu coração bater e o sangue fluir nas veias. Você não consegue ficar com a porta fechada com frequência.”

A sala demorou quase dois anos para ser criada. O espaço fica no centro de seis camadas de concreto, que ajudam a bloquear o som externo. É como uma sala dentro de outras salas, cada qual com 30 centímetros de espessura.

Além disso, a câmara foi construída de tal maneira, que não tem contato com os prédios ao redor. Por isso, se um avião decolasse do lado de fora, quem estivesse dentro apenas escutaria um pequeno sussurro.

Por fim, a superfície do espaço conta com espumas isolantes, para prevenir ecos.

“A câmara (anecoica) em si está disponível comercialmente, então qualquer um pode comprá-la”, explica Hundraj Gopal, engenheiro cuja equipe construiu o local. A da Microsoft, diz ele, se diferencia por ter cuidado de detalhes que pudessem inadvertidamente causar ruídos: “O segredo é o esforço que fizemos para isolar o sistema de sprinkler (contra incêndios), o suprimento especial de ar. Isso torna essa câmara única.”

Antes da câmara ser reconhecida como o lugar mais silencioso da Terra pelo livro Guinness dos Recordes, o título pertencia aos Laboratórios Orfield, em Minneapolis, também nos EUA. Os locais contavam com níveis de ruído de -9,4 decibéis.

E, bom, é normal que as pessoas pensem que um lugar assim, tão silencioso, proporcione muita calma e paz, mas a verdade não poderia ser mais diferente. É muito difícil para a maioria das pessoas se acostumarem a tamanho silêncio. A maioria acha a experiência realmente desconfortável.

“Algumas pessoas querem sair depois de apenas alguns segundos (dentro do local)”, diz Gopal. “Elas não aguentam. Incomoda quase todo o mundo. Dá para ouvir a pessoa respirando do outro lado da sala, os estômagos se movendo. Uma pequena parcela das pessoas sente tontura.”

Parece estranho, já que nos sentimos frequentemente agredidos pelo barulho excessivo das cidades, Peter Suedfeld, psicólogo especializado em privação sensorial na Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), diz que a câmara anecoica pode ser comparada a um quarto escuro.

“Estamos acostumados a todos os sons produzirem um pequeno eco ao nosso redor”, ele explica. “Nessas câmaras, só há sons mortos.”

Gopal ainda conta: “Algumas pessoas de fato acham (a experiência) meditativa, relaxante. Mas o máximo que eu vi alguém ficar lá dentro é uma hora, e isso foi para arrecadar dinheiro para caridade. Acho que passar muito tempo lá dentro é de enlouquecer. Cada vez que você engole, faz um barulho muito alto.”

No caso de Munroe, o silêncio excessivo tem utilidade: a missão do empregado é encontrar minúsculas vibrações produzidas em placas de circuito eletrônico durante a passagem de correntes, já que essas vibrações podem tornar os computadores barulhentos. Depois de encontrar ruídos e vibrações nas máquinas, Munroe tenta harmonizá-los para que se tornem o mais brandos possível.

Interessante, não?

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